Pirataria Zero!
EDITORIAL 31

Atualizado conforme o bom humor do Editor-chefe
30 de Julho de 2003

               Que os marketeiros do nosso presidente me desculpem, mas a propaganda da FOME ZERO é ótima para utilizarmos quanto à PIRATARIA, no caso em tela, de DVD. Bem, o termo certo não é este, porque os pirateiros estão vendendo gato por lebre. O que encontramos numa galeria específica na Av. Paulista, no coração financeiro de São Paulo, foram filmes no formato VCD e SVCD. Tinha de tudo, desde MR. BEAN até PROCURANDO NEMO dublado. Para nossa pesquisa e para comprovar aos nossos leitores que é dinheiro posto fora comprando estes disquinhos, levamos para testar HULK, EXTERMINADOR DO FUTURO 3 (isto mesmo!) e um produto ‘made in Brasil’, CARANDIRU. Total da conta: R$ 30 reais.

Enquanto estávamos nesta ‘lojinha’, aconteceu um incidente. Um rapaz voltava para reclamar que os ‘DVDs’ que tinha levado não teriam funcionado, somente HULK. Os atendentes chegaram a conclusão que o aparelho dele não era compatível com SVCD, porque somente HULK era VCD... Ocorre que na ‘capinha’ (uma péssima impressão do cartaz dos filmes acrescentado de LEGENDADO e do autor do crime, ‘by Yoshi’) continha a sigla VCD, e o enrosco estava formado. Além disso, tinha uma placa destacando que não devolveriam o dinheiro em hipótese alguma e, justamente isto, exigia o rapaz ‘enganado’. Ficamos só para ver como se daria a solução, e depois de cansáveis minutos, quando ele citou o PROCON, tudo se resolveu num toque de mágica.

Então começou a sessão tortura para assistir aos filmes que levamos. Democraticamente, escolhemos HULK e um saco de pipoca para agüentar aquela tarde que não revelou qualquer surpresa quanto os produtos que tínhamos em mãos. A imagem era ruim de doer! Além disso, não era total, porque tinha no canto direito da tela 3 faixas pretas médias que permaneceram até o fim, prejudicando bastante. De tanta granulação, fizemos uma pausa demorada para descansar os olhos quando precisou passar para o segundo e derradeiro disco (quase na totalidade de filmes nestes formatos precisam de 2 ou até 3 cds). “Não dá para tomar uma Kaiser antes?” alguém sugeriu. Então, seguiu o baile para ver o resto da fraca adaptação do diretor Ang Lee. Conclusão óbvia: foram 10 reais colocados fora! Como o filme ainda estava em cartaz nos cinemas, por esta mesma quantia, poderia levar uma companhia agradável em alguma sessão promocional.

Partimos então para CARANDIRU. Bem, como poderia ser possível ou a razão deste filme ser ‘vazado’ para a internet? O atrativo pela curiosidade de como conseguiram esta cópia foi rapidamente frustado pela imagem fora de foco (e de ângulo) obtido por uma câmera doméstica dentro de um cinema. E o pior: o sujeito que filmou não se deu o trabalho de ficar de frente para a tela, e sim, numa lateral. Terrível! Não conseguimos assistir a 5 minutos. Será que alguém ganha dinheiro com este tipo de lixo? Com certeza, muita gente perde ou deixa de ganhar, seja quem leva estes discos para casa, seja quem está por trás da realização e exibição do filme no cinema, porque mesmo assim há pessoas que se conformam em assistir na TV porcarias como esta.

Por fim, o mais esperado, EXTERMINADOR DO FUTURO 3, ainda inédito nos cinemas brasileiros (entra em cartaz dia 1º de agosto). A primeira surpresa foi que não se tratava de VCD como indicava na capa, e sim, SVCD. A segunda, as legendas estavam espremidas no canto inferior da tela, mal se podiam ler. E a última, nem tanto assim, foi filmado de dentro de um cinema. Esta impressão é nítida porque inicialmente quem gravou busca adequar o ângulo da câmera para preenchê-lo com a projeção na tela, pegando imagens do teto da sala e da cabeça do indivíduo da poltrona da frente e que ‘incomodará’ durante toda a sessão, principalmente, no clímax... Dentre tantos outros problemas, estas gravações dentro do cinema resultam sempre numa péssima qualidade da imagem e num áudio ‘aberto’, bastante estranho numa primeira audição e com bastante interferência de sons ‘externos’, como risadas, gente conversando alto, etc. e tal. Final de sessão e duas conclusões, uma óbvia: com opiniões divididas, o filme variou entre conceitos ‘fraco’ e ‘razoável’; e a óbvia ficou por conta da bobagem em comprar tais produtos.

Além de alimentar a pirataria, que é crime, quem compra acaba prejudicando uma cadeia produtiva muito grande, desde o recolhimento de impostos pelo governo até o lanterninha de cinema, profissão quase em extinção. Estes VCD e SVCD lembram das malfadadas fitas VHS ‘não-lacradas’ na década de 80, de forma adequada chamadas de ‘fitas piratas’. Elas traziam, na sua grande maioria, produções inéditas no país ou que estavam em cartaz nos cinemas. Por elas assisti PLATOON, porque fui barrado na porta do cinema pela censura de 18 anos. Mas aquela era outra época, cujos lançamentos nos EUA chegavam atrasados por aqui quase 1 ano! Ainda temos alguns problemas de distribuição, porém na grande maioria se restringem a filmes independentes, não justificando adquirir ‘DVDs piratas’. E quem consegue vislumbrar algum lucro vendendo filmes baixados da internet é melhor ficar ‘ligado’ nas mudanças quanto aos crimes de pirataria, a partir da Lei n. 10.695 (de 1º de julho de 2003) que alterou o nosso Código Penal:

"Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:

§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

E daí, vale a pena encarar 2 a 4 anos de cana? Nossa indicação é bem clara: vá ao cinema e curta depois em casa um DVD legítimo em perfeitas condições de imagem e vídeo, além dos extras bacanas, legalmente!