04 de janeiro de 2007
Na verdade, os dois melhores lançamentos cinematográficos de 2006 não se deram nos cinemas, mas pela via do dvd. Sarabanda, nova obra-prima do sueco Ingmar Bergman, é uma atualização perturbadora dos temas que têm incomodado o cineasta da alma há mais de sessenta anos; uma imagem expressiva e uma perigosa lucidez de intenções transformam este novo inventário emocional de Bergman num evento fílmico apaixonante. Logo depois de Bergman vem Rejeitados pelo diabo, do norte-americano Rob Zombie, que, brincando brincando, joga uma autêntica caixa explosiva no estômago do espectador; confundida com um filme de horror e com um neofaroeste, a realização de Zombie é outra coisa, uma experiência única com nossos sentimentos mais assustadoramente sanguinários.
Detendo-se exclusivamente nas salas de cinema, os dez melhores filmes do ano foram, por ordem de preferência: Às cinco da tarde (o melhor do ano), mais um surpreendente tratado iraniano da jovem Samira Makhmalbaf; Espelho mágico, filme exigente e rigoroso do português Manoel de Oliveira; Estrela solitária, volta triunfante à América empreendida pelo alemão Wim Wenders; O labirinto do fauno, uma fantasia onde o sensorial faz sentido segundo a concepção do mexicano Guillermo Del Toro; O maior amor do mundo, um percurso emocional do Brasil a partir duma personagem emblemática, o retorno do diretor Carlos Diegues à sua melhor forma; O sol, caminhando contra o vento, reminiscências pessoais de Tetê Moraes e Martha Alencar que se convertem num atualíssimo achado político; O homem urso, vitalidade expressiva do alemão Werner Herzog como documentarista; O fim e o princípio, pico da experiência documental de Eduardo Coutinho; Que fiz eu para merecer isto?, um antigo Pedro Almodóvar que chega atrasado mas revela a excelência de um estilo de cinema tão esquisito quanto eficaz; O céu de Suely, cinema brasileiro rodado no Nordeste com uma captação às vezes impressionista do cotidiano do sertão. E mais dez filmes que merecem referência: O novo mundo, de Terrence Malick; A última noite, de Robert Altman; Free zone, de Amos Gitai; Café da manhã em Plutão, de Neil Jordan; Crime delicado, de Beto Brant; Roma, de Adolfo Aristarain; 2046, os segredos do amor, de Wong Kar-Wai; As chaves da casa, de Gianni Amelio; e Três enterros, de Tommy Lee Jones.
Os dez piores? Por ordem de ruindade: Cerro do jarau, de Beto Souza (o pior filme do ano); O pequenino, de Keenen Ivory Waym; Poseidon, de Wolfgang Petersen; Amigas com dinheiro, de Nicole Holofcener; Os produtores, de Susan Stroman; Super-homem, o retorno, de Bryan Singer; A profecia, de John Moore; X-men, o confronto final, de Brett Ratner; Terror em Silent Hill, de Christopher Gans; Habana blues, de Benito Zambrano.
Por
Eron Fagundes