Diz-se que a maioria dos filmes é feita para cérebros primários, infantis mesmo. Não se trata somente daquele cinema que visa ao público infantil, mas ainda das narrativas de gênero endereçadas a uma platéia adulta cujas exigências, sempre educadas pelos produtores hollywoodianos, são precárias.
Jogo de espiões (Spy game; 2001) é um novo exercício de sofreguidão formal do realizador inglês, em atividade nos Estados Unidos, Tony Scott, irmão de Ridley Scottt. A sucessão de imagens na tela é tão rápida que muitas vezes provoca a abstração e impede o espectador de assimilar o amontoado de imbecilidades que está em cena; a sandice do cineasta Scott chega a seu auge, deixando no espectador crítico um vazio certamente assombroso. Desperdiça a experiência de Robert Redford, protagonista de um clássico do suspense made in Hollywood, Três dias de condor (1975), de Sydney Pollack, e um certo carisma que emana do galã Brad Pitt, visto no correto e superficial Seven, os sete pecados capitais (1995), de David Fincher.
Já Um grande garoto (About a boy; 2002), de Chris e Paul Weitz, é outra categoria de bobagem cinematográfica. Produção anglo-americana, o filme investe no desempenho do ator inglês Hugh Grant para tergiversar sobre a aridez sentimental dum solteirão conquistador que um belo dia se modifica ao relacionar-se com um garoto de doze anos que é filho de uma de suas pretendentes. A superficialidade americana dos realizadores acaba por enrolar o espectador ingênuo, que se enovela numa série de eventos mais ou menos melodramáticos que não levam a lugar algum.
Entre a aventura apressada de Jogo de espiões e a crônica sentimental insossa de Um grande garoto navega boa parte do cinema atualmente visto na cidade, dando um panorama bastante desolador do que se pode ver comercialmente dos filmes feitos pelo mundo.
Por
Eron Fagundes