A BARRA PESA EM NOVA IORQUE

12 de Maio de 2003

O dramaturgo brasileiro Plínio Marcos teve seus dias de glória nos anos 60 e 70; seus diálogos sem enfeites extraídos do universo dos marginais nacionais da época tinham um coeficiente dramático capaz de permitir uma relação tensa com o palco. Nos anos em que se iniciava uma controlada abertura política no país o realizador carioca Reginaldo Farias (mais conhecido por narrativas mais leves como Os paqueras, 1968, ou O flagrante, 1975) rodou um dos textos de Plínio: Barra pesada (1977), com um adolescente Stepan Necessian à frente do elenco. Teria Plínio e toda esta preocupação com um certo retrato social brasileiro sobrevivido à crise de ideologias que assola esta virada de milênio?

O cineasta José Joffily, ao filmar Dois perdidos numa noite suja (2002), que é um dos textos mais encenados de Plínio, resolveu arriscar: deslocou a ambientação marginal brasileira para a Nova Iorque (uma Nova Iorque tão sombria quanto aquela dos filmes do norte-americano John Carpenter) de nossos dias. O resultado parece artificial: os cenários não funcionam, a elogiável garra dos atores não serve para dar veracidade ao que se está contando, a eventual atualização de considerações sociais da obra afunda-se num sem sentido circular. Joffily errou ao mudar de cenário, algo tão excêntrico e surrealista (as linhas de ajuste de ação do filme indicavam um caminho realista) quanto a idéia do francês Alain Resnais (felizmente não levada a cabo) de ambientar seu clássico O ano passado em Marienbad (1961) numa favela.

Joffily é inegável discípulo de Hector Babenco, como já se pôde depreender de seu anterior Quem matou Pixote (1996), que era um filme mais conseqüente do que esta investida em Plínio Marcos. A presença na cidade de Carandiru (2003), de Babenco, permite confrontar a modernidade do mestre com as velharias de seu discípulo. Paulo Halm, o roteirista, é um nome constante dos roteiros brasileiros de hoje, mas no passado chegou a assinar a direção duma equivocada narrativa política, PSW, crônica subversiva (1988), vista há anos num Festival de Cinema de Gramado; ao que parece Paulo, que demonstrava não saber converter suas idéias em imagens cinematográficas adequadas, desistiu de dirigir para mergulhar nas palavras que serão imagens –mesmo assim, o sucesso não é o esperado.

Por Eron Fagundes