5
de agosto de 2003
Como
Martin Scorsese e Woody Allen, o diretor negro norte-americano
Spike Lee estrutura sua obra cinematográfica em torno da
ação que a imponente Nova York exerce sobre sua
cabeça (cidadão, indivíduo da cidade). Se
Scorsese busca um clima de estranheza na violência das ruas
da metrópole americana e Allen ambienta suas narrativas
nos refinados diálogos da classe intelectual nova-iorquina,
Lee parece mais terra a terra com o povo de sua urbe, o que confere
a seus filmes aspectos inusitadamente sensoriais de filmar.
A
última noite (25 th hour; 2002) é o mais
recente exercício de crítica social do cineasta.
Mas está longe da conseqüência de películas
como Faça a coisa certa (1989) ou O
verão de Sam (1999). Seu rebuscado tom popularesco
e fácil demais se aproxima das características desconjuntadas
de A hora do show (2000).
Filmando
uma Nova York deprimida depois da destruição de
um de seus símbolos-base, as torres gêmeas do World
Trade Center, em 11 de setembro de 2001, Lee coloca em cena um
condenado em sua última festa (noite) antes de se dirigir
para a prisão (Edward Norton, correto): suas relações
com seu pai, com a namorada porto-riquenha, com os amigos (um
reprimido professor de inglês, tentado por sua bela aluna,
e um arrivista corretor de bolsa de valores) são vasculhadas
linearmente pelo realizador.
O mundo
dos traficantes e marginais de Nova York e a sensualidade das
noites aparecem insistentemente em A última noite,
num esforço de cativar o público de sempre. Todavia,
o novo Spike Lee se distancia bastante duma visão acurada
da violência ianque, como aquela que podemos desfrutar em
Gangues de Nova York (2002), um Scorsese que
deverá muito em breve transformar-se num clássico
do cinema.
Por Eron Fagundes
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