Atualizado
conforme o bom humor do Editor-chefe
23 de agosto de 2005
Depois
do prestígio de Central do Brasil (1998)
e do itinerário latino-americano de Diários
de motocicleta (2004), o cineasta brasileiro
Walter Salles Jr. optou por uma internacionalização
perigosa em Água negra (Dark
water; 2005). E internacionalização,
para a mídia contemporânea, é
sinônimo de americanização. Outro
brasileiro, Burno Barreto, casado com a atriz americana
Amy Irving, tem feito isto: dividir sua carreira entre
o Brasil e os Estados Unidos. Walter fará o
mesmo? Sua primeira incursão pelo cinema de
Hollywood não surpreende, falta o sopro da
novidade para além do domínio da técnica
de filmar, há momentos em que o brasileiro
se assemelha a qualquer artesão de um grande
estúdio hollywoodiano; mas não se pode
dizer claramente que o filme decepcione: Água
negra namora a afeição do realizador
pelo espetáculo cinematográfico em si;
mas de certa maneira isto estava, por exemplo, em
Diários de motocicleta, com
seu formato de filme de aventura.
A grande virtude do novo trabalho de Salles é
que, ainda que trate duma trama de gênero e
seja uma refilmagem dum filme japonês de horror,
Água negra nunca se deixa
levar pelas obviedades, ao contrário faz um
engenhoso cruzamento entre a psicose humana e as supostas
ocorrências de fenômenos do além.
Salles é hábil em não tornar
sua narrativa nem obscura nem simplória.
O pecado de Água negra vem
um pouco da ingenuidade de muitas de suas situações,
realçada pela forma de atuar do elenco, especialmente
Jennifer Connelly e mais uma destas sofríveis
atrizes mirins do cinema ianque, Ariel Grade. Salles
não aborrece e sabe fazer bem este jogo entre
uma certa exigência plástica e a aproximação
àquilo que o público realmente aplaude.
Enfim, Walter, depois de cruzar o Brasil em Central
do Brasil, despeja seu nervo estético
num recanto meio marginal de Manhattan: Walter, não
esqueçamos, é mais um brasileiro em
Nova Iorque.
Por
Eron Fagundes
Por
Eron Fagundes