27 de dezembro de 2006
A banalidade, tratada em imagens absolutamente insossas, é o que incomoda bastante na narrativa sonífera de Amigas com dinheiro (Friends with money; 2006), de Nicole Holofcener; não se deve confundir o cinema da banalidade (por exemplo, o filme brasileiro O céu de Suely, 2006, de Karim Aïnouz, recheado de diálogos frívolos e sem o habitual avanço dramático exigido pelo público) com um cinema banal como esta realização americana, pois a diferença está essencialmente na força ou na fraqueza das imagens que um diretor pode dar a seu filme. Os retratos femininos de Amigas com dinheiro são suerpeficialíssimos, a despeito da excelência das atrizes, especialmente de Jennifer Aniston na pele da mais pobretona das amigas; aquele toque de mistério e inquietação das elipses de informações das personagens que há em O céu de Suely são puro desleixo narrativo em Amigas com dinheiro, em face da incompetência com a imagem revelada por Holofcener.
É claro que não se poderia exigir de uma cineasta padrão de Hollywood a profundidade cortante do italiano Michelangelo Antonioni, que em As amigas (1955) rodou um das visões cinematográficas definitivas sobre o universo feminino. Mas bem que Holofcener poderia ter caprichado um pouquinho, aproximando-se mais daquele universo simpático que diretores americanos como Paul Mazursky e Hal Ashby punham na tela nos anos 70, e aí sim, à sombra destes cineastas, ter evitado de induzir o espectador tão facilmente a um estado de tédio com seu alinhavar de falas triviais e mal costuradas. Assim como está, Amigas com dinheiro apresenta um quadro bastante constrangedor da mulher americana: seria a mulher americana um porre como se percebe das criaturas do filme?
Por
Eron Fagundes