UM MURO ALEMÃO
 

 

09 de abril de 2007

Um amor além do muro (Der rotte kakadu; 2006), produção germânica dirigida por Dominik Graf, vai à Alemanha Oriental de 1962 e se esforça por retratar, de maneira áspera e distanciada, alguns punhados de vidas alemãs nos dias que antecederam a edificação do muro que dividiu a cidade de Berlim e, assim, o próprio país; o filme se conclui com uma inesperada melancolia olhando como o muro desacertou os liames sentimentais das pessoas, especialmente do trio de protagonistas. Em 1993 a grande cineasta alemã Margarethe von Trotta rodou seu A promessa para ver a Alemanha pouco antes e pouco depois da queda do muro erigido em 1961. Graf não tem o estofo dos grandes realizadores alemães: falta-lhe, por exemplo, a sensibilidade da Von Trotta.

Um amor além do muro é, como O crocodilo (2006), do italiano Nanni Moretti, um exemplar do descolorido e do aspecto de folhas amarelecidas que caracterizam a falta de seiva do atual cinema político, que se vira de tudo quanto é jeito para seguir o rastro dos granes mestres do passado, em vão todavia. No caso do alemão Graf, são evidentes as pegadas da dura e seca linguagem cinematográfica germânica, que já teve melhores dias, sabemos todos; há um pouco de Volker Schloendorff em Um amor além do muro, mas tudo é sem brilho, difuso, incolor. Falei em Moretti, mas é bom lembrar que o italiano é muito melhor que Graf e, ainda quando parece vago e indeciso, Moretti brilha com sua fulguração fílmica.

Nada de verdadeiramente novo em Um amor além do muro. Tão-somente um muro alemão que em sua imagem final (os amantes separados pelo muro) se converte num longínquo melodrama.

Por Eron Fagundes

| topo da página |