10 de janeiro de 2007
Hollywood é a inevitável fábrica de sonhos aonde todos os cinéfilos, mais dia menos dia, vamos ter. A realizadora Nancy Meiers presta, em O amor não tira férias (The holiday; 2006), sua homenagem à velha Hollywood com as cores e a descontração clássicas que surgem a partir da comovente caracterização de Eli Wallach (um dos três homens em conflito do diretor italiano Sérgio Leone no distante ano de 1966) como um ex-roteirista de estúdio à antiga, mas o clímax de rol de citações é quando um dos casais centrais da história (Íris e Miles) está numa locadora, ele apanha o dvd de The graduate (1967), de Mike Nichols, cujo título em português foi A primeira noite de um homem e que tinha no papel-chave um jovem Dustin Hoffman, senão quando um breve plano mostra o hoje velho Dustin na locadora reclamando ironicamente que não pode sair à rua, todos os reconhecem.
Meyers usa e abusa dos clichês românticos da meca do cinema, como já fizera em Alguém tem que ceder (2003), quando narrava a difícil aproximação amorosa entre as personagens de Jack Nicholson e Diane Keaton; mas em O amor não tira férias alguma coisa se desmorona e a excessiva previsibilidade da trama e superficialidade dos sentimentos (duas categorias que a cineasta adota com despudor e bom humor) incomodam um pouco o espectador mais crítico. Sabe-se que um filme americano rodado nos moldes tradicionais é sempre fácil de ver, por pior que sejam os resultados a que chega. Meyers é uma das cabeças que melhor expõem uma certa sensibilidade feminina made in U.S.A. Ela dirige com carinho seu elenco. Exige de Kate Winslet, cujos recursos interpretativos são maiores que os de Cameron Diaz, mas a câmara sabe enamorar-se da beleza desta pantera loira, fazendo-a passar bem aos olhos do observador, senão por amor à interpretação, ao menos por uma certa lascívia; Jack Black e Jude Law são figuras decorativas de cenário, bastante estereotipados como personagens, o que parece ser uma tendência nas criaturas masculinas dos filmes de Meyers, mas se encaixam bem no conjunto do filme.
Um entretenimento que pode agradar mais ou menos dependendo do estado do espírito do espectador. A juventude romântica certamente deve aplaudi-lo.
Por
Eron Fagundes