21 de abril de 2008
É a paixão que destrói Angel Deverell, a personagem central de Angel (Angel; 2007), o primeiro filme rodado em inglês pelo cineasta francês François Ozon. É também o tom ou destom apaixonado que vai destruir a elaborada construção narrativa de Ozon. O melodrama de época pretendido pelo realizador de obras raspantes como O amor em cinco tempos (2004) e O tempo que resta (2005) se põe à deriva em Angel; a morbidez alucinada do roteiro e das criaturas (extraídos dum romance da escritora inglesa Elizabeth Taylor, 1912-1975, que não deve ser confundida com sua homônima, a atriz londrina célebre por sua parceria com o britânico Richard Burton) sai dos trilhos e as costuras de cenários de época, apesar de grandiosas, são na verdade molduras sofisticadas para o vazio.
A realização de Ozon passa por aquelas atmosferas cênicas que o também francês François Truffaut executava com um brilho muitas vezes maior. A interpretação carregada de Romola Garai como a romancista de textos populares e açucarados lembra muito Isabelle Adjani em A história de Adèle H. (1975); é claro que, no momento em que a personagem começa a enlouquecer diante da paixão, falta a Ozon a entrega e a criatividade de Truffaut.
O elenco de apoio do filme traz a serenidade interpretativa de Sam Neil como o editor da protagonista; Michael Fassbender como seu amado exubera em tons falsos; e a experiente Charlotte Rampling, que nas mãos de Ozon teve melhores dias em Sob a areia (2000) e Swimming pool (2003), parece um tanto quanto sem convicção em cena na pele da mulher do editor, uma personagem praticamente sem função narrativa.
Formalmente talvez seja Angel o filme mais ambicioso de Ozon; mas é também a maior queda de seu cinema.
Por
Eron Fagundes