24
de novembro de 2003
A câmara,
instável e navegante, parece estar sempre colada à pele
dos atores; o mundo fluido e psicodélico das drogas vivenciado
pelos adolescentes em cena é capturado formalmente numa
linguagem cinematográfica cheia de delírio e inquietação.
Mas o estilo da câmara atrás dos atores não
busca aquele sentido duro e realista dos belgas Luc e Jean-Pierre
Dardenne; o estilo da realizadora Catherine Hardwicke é mais
pasteurizado e feérico, longe de qualquer sisudez experimental,
embora toque um certo experimentalismo maneirista, como nos Dardenne.
No
início de Aos treze (Thirteen; 2003) duas garotas drogadas
trocam socos violentos no quarto de uma tão-somente para
experimentar a sensação (efeito da droga). Toda
a narrativa de Hardwicke vai acompanhar o universo chocante e
sufocante da adolescência drogada, uma amizade permeada
pelo vício, os dilemas familiares levantados. É pena
que a diretora prefira as facilidades do gratuito escandaloso,
da superficialidade de caracteres e formas; apesar da barra pesada
oferecida aos olhos do espectador, a realizadora está longe
de aprofundar os assuntos que aborda.
O
que aborrece em Aos treze é uma certa mesmice temática
e formal. Algo esponjoso põe a perder as boas intenções
do roteiro. De nada vale informar que se baseou em experiências
reais se não se tem o dom do cinema para investigar a
realidade humana.
Por Eron Fagundes
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