A MÚSICA DA IMAGEM EM BERTOLUCCI
 

 

Se a música determina o padrão de linguagem cinematográfica em A lenda do pianista do mar (2000), de Giuseppe Tornatore, é em Assédio (Besieged; 1998), de Bernardo Bertolucci, que o rigor formal na concepção da imagem radicaliza a percepção musical. Bertolucci é mais autoral e inventivo do que Tornatore, o que torna suas intenções temáticas um tanto quanto obscuras e dificulta o acesso do público mais conformista. O realizador italiano é particularmente brilhante em fundir os movimentos de câmara, os movimentos dos atores e a utilização dos cenários num balé cinematográfico a que a faixa sonora de clássicos vem acrescentar brilho.

No centro do drama romântico de Bertolucci está um pianista inglês (tão estranho quanto o pianista marítimo de Tornatore) e uma estudante de medicina africana que trabalha de doméstica na casa do pianista. Numa Roma muito particular de Bertolucci eles se encontram e lenta e surdamente se aproximam até o difícil ato amoroso final. Com poucos diálogos e exigindo o máximo de atores habitualmente inexpressivos, Assédio demonstra a alta categoria do domínio da imagem cinematográfica por Bertolucci.

Por Eron Fagundes

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