OS SONS DE UM PAÍS
 

 

19 de setembro de 2007

Depois do hollywoodiano Letra e música (2007), de Marc Lawrence, (hollywoodiano, mas acima da média da sensibilidade que habitualmente o cinema americano despeja por aqui), e do brasileiríssimo Brasileirinho (2007), sem embargo de ser dirigido pelo finlandês Mika Kaurismaki é um gosto bem brasileiro de ouvir, é a vez de aportar na cidade outro filme que faz o cinema voltar-se para sua irmã música, o documentário Atravessando a ponte: o som de Istambul (Crossing the bridge: the sound of Istambul; 2005), dirigido por um alemão descendente de turcos, Fatih Akin. Esta mistura étnico-cultural-antroplógica do cineasta se expande para o filme, buscando captar os pontos de intersecção entre o Oriente e o Ocidente a partir da “visão sonora” de Istambul, cidade turca que fica nos limites destes dois universos.

Na verdade, apesar de no começo os cantores turcos mostrados pelo filme enveredarem por um rock e por um rap (é cômico o efeito visual-sonoro daquele rapaz que fala abruptamente monossílabos ou dissílabos como quem despeja pequenos e incômodos sapos verbais), a musicalidade de Atravessando a ponte é muito oriental, são sons típicos, fortemente regionais, mas que por sua beleza intrínseca acabam por atingir a sensibilidade do espectador-ouvinte de qualquer canto do mundo. Fatih toma como condutor de sua peregrinação musical turca o músico alemão Alexander Hacke, fazendo, aí sim, uma ponte sonora entre a Alemanha e a Turquia; nesta peregrinação a força germânica de Hacke cruza com estrelas da música turca, como Aymur, Müzeyyen Semar e Sezen Aksu, que aparecem cantando e dando entrevistas ou em imagens de arquivo de filmes de quando eram jovens. . Fatih executa um rigor formal mais acentuado que aquilo que se vê nos citados Letra e música e Brasileirinho; este rigor turco-teutônico de filmar um documentário não estorva, porém, a naturalidade interna das encenações.

Seguramente um dos destaques da atual temporada de cinema, Atravessando a ponte começa citando um antigo sábio chinês, Confúcio (“Para conhecer um povo, devemos começar conhecendo sua cultura”) e nos convida a um passeio cultural: a música é um pretexto (agradável pretexto) para que a imagem invada a cultura turca, aspectos do comportamento turco se materializam em sua música e é nestes aspectos que a câmara do realizador se detém sutilmente para estabelecer uma outra ponte, entre a cultura musical e a cultura como um todo de um povo.

Por Eron Fagundes

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