21
de fevereiro de
2005
Nota-se
em cada filme rodado pelo norte-americano Martin Scorsese que
o realizador tem o cinema nas veias. Atento rato de cinemateca,
o cineasta aprendeu bem com seus mestres e desenvolveu um estilo
próprio de filmar que o coloca como um autor a serviço
do meio comercial de Hollywood.
Em
seu novo filme, O aviador (The aviator; 2004), Scorsese exubera
em sua magnificência de filmar. Tudo é grandioso
nas encenações elaboradas pela narrativa: os estudados
e amplos enquadramentos, a articulação dos cenários,
as maneiras dos atores, o deslumbramento dos cortes em que Scorsese é de
fato um professor. Como é melhor definido num vocábulo
inglês: O aviador é um filme over, sempre com tons
e metáforas muito acima da linguagem cinematográfica
comum. Scorsese desconhece qualquer espécie de despojamento
fílmico; discípulo de Orson Welles (seu atual filme
não deixa de ser um herdeiro pequeno de Cidadão
Kane, 1941, conservando deste mais a grandiloqüência
que a criatividade) e de Federico Fellini (certos aspectos de
um barroquismo onírico da imagem –a crueldade ao
mesmo tempo realista e mágica do incrível acidente
aviatório a que sobreviveu a personagem central), Scorsese
não deixa de impressionar os olhos do cinéfilo.
Mas está bastante longe de oferecer o grande espetáculo
anunciado.
Ao
retratar a vida do magnata ianque Howard Hughes, criador duma
empresa de aviação e produtor de cinema, Scorsese
não aprofunda tanto assim o estudo duma personalidade
inquietante e irreverente. Um dos problemas do filme é o
estrelismo vazio de Leonardo DiCaprio; apesar da excelência
da direção de atores do cineasta, ele não
consegue eliminar todos os trejeitos interpretativos do jovem
astro, apelando somente para a sofisticação de
filmar como salvo-conduto para um desempenho que às vezes
parece postiço. Diversamente, Cate Blanchett, na pele
da temperamental diva hollywoodiana Katharine Hepburn, com quem
Hughes manteve um esquentado relacionamento de fim melancólico, é uma
atriz cheia de recursos e sutilezas, que favorece as intenções
de Scorsese.
Sem
embargo destes breves problemas, O aviador merece ser visto e
apreciado, especialmente em face da mediocridade que viceja
no cinema atualmente visto.
Por Eron Fagundes
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