09 de março de 2007
Depois de experiências mais radicais com o tempo narrativo em Amores brutos (2001), em seu episódio duro e bombástico para 11 de setembro (2002) e em 21 gramas (2003), o realizador mexicano Alejandro González Iñarritu baixa a guarda de suas complexidades formais em Babel (2006) e torna-se mais acessível ao espectador que vá ao cinema esquecendo-se do cérebro em casa (é bem verdade que as inquietações estilísticas do cineasta pendem para o sensorial, mas é um sensorial que exige a participação intelectual, como no francês Alain Resnais), Babel se situa um pouco na fronteira entre um cinema mexicano autêntico e as configurações comerciais do cinema de Hollywood (cujos símbolos são aqui representados pelos astros Brad Pitt, uma estrela, e Cate Blanchett, uma intérprete de bons recursos). Apesar destas pequenas concessões, que tornam a narrativa mais identificável para a platéia, Babel é ainda e sempre um belo exemplo do cinema contundente e cortante de Iñarritu e o roteiro do cineasta e seu habitual roteirista Guillermo Arriaga (que fez também um roteiro entrecruzado para Três enterros, 2005, que o norte-americano Tommy Lee Jones harmonizou num extasiante estilo clássico de filmar) é tão intrigante quanto nos demais filmes, e a desmesurada ambição de contar quatro histórias internacionais que de uma maneira ou de outra devem interligar-se como fundindo-se numa história única é um projeto que em termos funciona.
É verdade que Iñarritu exercita sua sedução pelas idas e vindas no tempo, como assoberbado pelas inquietações temáticas do mundo contemporâneo. Todos os seres de Iñarritu que sofrem são vítimas da burocracia insensível, esta burocracia pétrea é formada por mais que burocratas violentos burrocratas idiotas: um garoto, no deserto africano de população árabe, testando a distância alcançada por um rifle, acerta uma turista americana, ferindo-a gravemente; a maldade da polícia na perseguição aos garotos assassinos é tão terrível quanto a ineficácia das autoridades do Primeiro Mundo para sair em socorro da mulher ferida nos confins da terra.
Um dos achados semióticos de Babel é ligar o deserto marroquino, onde se deu o acidente/incidente criminoso, com o deserto da fronteira México—Estados Unidos, onde a babá mexicana dos filhos dos turistas americanos em viagem na África, se encontra perdida em sua ilegalidade ao voltar de um casamento no México para sua residência nos Estados Unidos. Pode-se dizer que Iñarritu abdica em Babel de suas tensões formais para extravasar seu desespero, especialmente identificado na dedicatória a seus filhos; mas isto também decreta uma certa baixa em seu cinema que tem dividido os analistas.
Por
Eron Fagundes