19
de julho de
2004
Não
estou entre os admiradores do escritor brasileiro Chico Buarque
de Holanda, embora exalte o compositor e o cantor que habitam
o mesmo corpo. A literatura de Chico me parece difusa e monótona,
um mar monocórdio de palavras semivazias (se não
fosse uma estilização às vezes curiosa).
Benjamin (2004), o filme que a cineasta Monique Gardenberg extraiu de
um dos livros de Chico, em tudo é o correspondente
cinematográfico da ficção brilhosa e morna
do autor de Budapeste (2003), outro romance que poderá vir
a interessar ao cinema (Estorvo já foi filmado por Ruy
Guerra, um realizador que há muito perdeu a receita de
um bom filme).
Monique
adota um charme de filmar que no começo seduz
o espectador. E mais ainda quando ela conta com o fascínio
interpretativo de Paulo José e certas participações
curiosas, como Chico Diaz. A câmara de Monique é instável
e perturbada como convém, para tentar contar uma história
que na verdade se passa no interior da personagem. Mesmo valendo-se
dos talentos de Jorge Furtado e Glênio Póvoas como
co-roteiristas, a realizadora não logra melhorar as confusões
do enredo originalmente contado por Chico Buarque; o filme pouco
a pouco resvala para o mais puro vazio, esforçando-se
por preencher seu espaço com maneirismos formais incômodos
e aborrecidos.
Um
dos problemas centrais de Benjamin é a atriz que conduz
a ação, Cléo Pires, bonita e sensual em
cena, vivendo duas personagens distintas, mas longe da experiência
e do talento das grandes musas do cinema. Mal dirigida por Monique,
talvez Cléo seja a debilidade principal da narrativa,
acumulando-se a um roteiro perdido e a uma direção
desorientada.
Por Eron Fagundes
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