06 de agosto de 2007
O diretor de cinema Emilio Estevez se esforça muito para estabelecer o retrato cinematográfico de uma época em Bobby (2006), filme que, cruzando as vidas de diversas personagens, busca uma costura nos passos finais do estadista americano Robert Kennedy quando tudo indicava que seria o futuro presidente e tenta um clímax no brutal assassinato de Bobby ao fim da narrativa, imagens regadas a sangue e a um discurso utópico e pacifista (bem de acordo com os revolucionários e esperançosos anos 60). A voz de Bobby no fim do filme, traçando uma senda de ação política visionária que, diante do cadáver do político, parece uma ação derrotada momentaneamente mas sempre apontando para um futuro, esta voz contém toda a emoção de uma época, especialmente para quem —criança, moço, madurão ou velho— viveu aqueles anos; mas ocorre que Estevez tem mão dura para manejar um roteiro tentacular e fica preso a regrinhas convencionais de filmar, realizando um projeto sem ousadia, sem sangue, bastante abaixo da energia utópica de sua personagem, um dos grandes homens de seu tempo e, sabe-se pela peroração final, um cérebro ainda hoje muito adiante daquilo que a humanidade pode apresentar.
O filme entremostra contundentemente suas debilidades, apesar de toda a nossa nostalgia. Os relacionamentos que Estevez desenha se abeiram muitas vezes de melodramas insossos, mármores novelescos sem inspiração. O cineasta exibe toda a sua miopia artística. É uma pena. Bobby Kennedy merecia um filme mais denso, menos interessado em expor comercialmente seu tema (às vezes se aproxima de um documentário demagógico e sensacionalista). O curioso é que Estevez contou com um bom elenco: Anthony Hopkins, que é também produtor executivo; a reaparição de Demi Moore como uma diva dos anos 60, e aí Demi aciona com extrema sedução um estrelismo estudado, agudo; Helen Hunt, Sharon Stone, maduronas sempre bem-vindas. Ninguém falha entre os intérpretes. O problema é a cabeça que os dirige.
No rol de referências de época semeadas por Estevez, surgem as citações em diálogos a Bonny e Clyde (1967), de Arthur Penn, e a A primeira noite de um homem (1967), de Mike Nichols, dois filmes emblemáticos do cinema americano nos anos 60 e cujo sopro libertário em Hollywood (violento e sinuoso em Penn, cordato e clássico em Nichols) poderia fechar com o retrato duma época que permitiu a existência de um indivíduo como Robert Kennedy. Mas, assim como se insere na narrativa, as duas reverências cinematográficas de Estevez soam forçadas e pedantes.
Por
Eron Fagundes