26 de março de 2007
Ao contrário do que parece, Borat (2006), excentricidade produzida pelos americanos para se divertirem e para divertirem seus quintais, é bastante gratuito e até apolítico. Larry Charles, o realizador, utiliza escrachadamente os aparelhos cinematográficos do entretenimento, mas sua sátira às reações entre estrangeiros e americanos na “fabulosa” América é tão descarada e estereotipada que fica difícil para o espectador assimilar um sentido político (correto ou incorreto, conceitos igualmente inconseqüentes e massifcados) minimamente apurado. Borat, como de certa maneira Letra e música (2006), de Marc Lawrence, é um produto curioso que serve a duas senhoras, a senhora indústria e a senhora arte; é bem verdade que Borat, com sua pose de falso documentário e sua narrativa inquieta e trêfega, foge mais ao descompromisso hollywoodiano que Letra e música; mas tão falso quanto o falso documentário rodado pela personagem do cazaquistanês vivido por um moleque pegajoso como Sacha Baron Cohen é o pensamento (falso mesmo) de que Borat, com suas anedóticas tiradas escatológicas, possa ser politicamente demolidor em suas provocações preconceituosas (que incluem os judeus, os negros, os gordos, as prostitutas feias e ridículas).
Borat diverte-nos, é uma curta piada cinematográfica: não exijamos do filme mais do que isto.
Por
Eron Fagundes