24
de maio de 2003
Já
em suas primeiras imagens –um rapaz que conversa ao telefone,
possivelmente com uma rapariga—a narrativa de Bully
(2001), produção franco-americana dirigida
por Larry Clark, diz ao que veio: sem meios tons, quer fazer um
retrato bastante duro da juventude americana contemporânea.
O garoto fala em sexo, mas do sexo que ele refere está
ausente qualquer afetividade: eu quero que você chupe meu
pau, eu quero que você chupe minhas bolas, frases ditas
com o propósito célere de ferir e subjugar a interlocutora;
não há erotismo, há crueldade. É este
sentimento da crueldade que vai gerar a violência, o assassinato
e as complicações dum grupo de jovens da boa classe
média americana.
É
verdade que Bully torna a visão da esterilidade
dos jovens algo estereotipado e igualmente estéril. Clark
é virulento em suas colocações, mas também
superficial. Em sua abordagem da temática da violência,
Bully está longe dos acertos de colocação
do documentário Tiros em Columbine (2002),
de Michael Moore. As questões do abandono familiar dos
jovens não é aprofundada por Bully, que se detém
em contemplar de fora as precárias relações
entre pais e filhos; mesmo assim, a agilidade do cineasta (há
uma seqüência em que a câmara fica circulando,
dando volta diversas vezes, entre as personagens enquanto estas
tagarelam) mexe com os nervos sensoriais do observador para que
ele reflexione sobre o assunto.
Por Eron Fagundes
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