A DECADÊNCIA DE FRIEDKIN
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23 de setembro de 2003

Como Michael Curtiz, que acertou no ponto em Casablanca (1941), o realizador norte-americano William Friedkin acabou passando à história do cinema como o homem que concebeu as terríveis e persistentes imagens de O exorcista (1973). Cineasta de um filme só: o resto de sua carreira é prolongamento fútil. Se é verdade que seu principal trabalho também acaricia a futilidade e está longe da importância que lhe dão seus admiradores, uma produção como Caçado (The hunted; 2003) mostra a competência formal de Friedkin e a inutilidade e superficialidade desta competência. Apesar de suas artimanhas de diretor de cinema, Caçado, graças ao já visto de todas as suas situações, não deixa de conter muitos momentos soníferos.

Hábil manipulador da ação rápida em cinema e especialmente do ator dentro desta ação, Friedkin põe em cena o veterano Tommy Lee Jones no calcanhar do jovem Benicio Del Toro. A personagem de Jones foi professor da criatura de Del Toro nas Forças Especiais ianques; atualmente o aluno virou um enfrentador do sistema em defesa dos animais e da natureza e provoca muitos estragos antes de ser morto por seu mestre. Citando Abraão no começo e no fim do filme, Friedkin esforça-se por dar um cunho moral a seu propósito cinematográfico: o policial de Jones estaria sacrificando para Deus sua cria, seu filho militar, algo à semelhança de Abraão, que também sacrificou seu rebento.

É pena que todo o desenvolvimento da película de Friedkin escorregue para suspeitas e inócuas facilidades comerciais. Não se poderia esperar mesmo que Friedkin se abalançasse a realizar obras “morais” tão profundas quanto as do francês Eric Rohmer ou do português Manoel de Oliveira.

 

Por Eron Fagundes