UM CINEMA DE FALCATRUAS
 

 

23 de abril de 2007

O cineasta brasileiro Bruno Barreto escolheu para seu novo filme uma peça de Juca de Oliveira que trata do Brasil das falcatruas, onde os ricos têm todos os golpes na mão e os pobres se dividem entre os que são chamados para os golpes dos ricos e os que perdem o pouco que têm (um emprego, por exemplo) como efeito final destes golpes dos ricos. Caixa 2 (2007) é este filme onde, tratando da picaretagem nacional, Barreto exibe as possibilidades de picaretagem de seu cinema, que atualmente está longe do frescor jovem de seu sucesso comercial em Dona flor e seus dois maridos (1976), e da apaixonada encenação de Romance da empregada (1987); igualmente ele não reedita a justeza política de Que é isto, companheiro? (1987).

A picaretagem começa porque, buscando a farsa política e social, Barreto decai nos tipos simplificados e na superficialidade de intenção; pode ser que o texto de Juca busque mesmo esta comunicação fácil, porém Barreto exacerba nesta bem-comportada caixa de fósforos que é sua narrativa. A agilidade de Caixa 2 é a agilidade bruta da televisão, e a aproximação que se faz a um tema sério e espinhoso como os desvios financeiros no país se assemelham à forma ligeira e brejeira com que as telenovelas nacionais tratam certas questões da ordem do dia.

É claro que Barreto arregimenta bem a simpatia de seus atores, Cássio Gabus Mendes, Fúlvio Stefanini, Daniel Dantas, Thiago Fragoso, Giovanna Antonelli, Zezé Polessa, esta a melhor interpretação em cena. E tudo isto converge para um final moral e feliz em que, diversamente do que ocorre por via de regra na vida real, os pobres ludibriam os ricos e se dão bem.

Por Eron Fagundes

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