29
de dezembro de 2003
O refinamento
também pode ser algo estúpido. Em Callas
forever (2002) o realizador italiano Franco Zeffirelli exercita seu estudado
estilo de filmar numa narrativa a que falta o sopro vital. Herdeiro
das encenações de apurado gosto pelos cenários,
pelos diálogos e pelas interpretações em
que outro italiano, Luchino Visconti, atingiu a profundidade
máxima, Zeffirelli, apesar de sua fama, nunca pôde
alçar-se à condição de grande cineasta.
Em Callas forever seu navio estético afunda integralmente.
A
cinebiografia da atriz operística Maria Callas é um
destes distantes e frios quadros de que a emoção
se ausenta. Preocupado em conter as características melodramáticas
de seu tema, Zeffirelli impede que seu filme se aproxime da vida.
Sua direção de elenco é desajustada; mesmo
contando com estrelas do porte da francesa Fanny Ardant e do
norte-americano Jeremy Irons, fica evidente e frouxidão
de caracteres que um ritmo cinematográfico precário
não logra iludir.
Em
suma, tudo se mistura no conformismo do visual elaborado por
Zeffirelli: as lições aprendidas com seu mestre
Visconti (e aqui mal utilizadas) e um jeitinho hollywoodiano
que o diretor tem conservado ao longo dos anos para não
perder seu público.
Por Eron Fagundes
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