10 de agosto de 2006
O arraigado regionalismo de filmar do realizador iraniano Bahman Ghobadi vai afinal tornar o universo humano de Canções da terra da minha mãe – exílio no Iraque (2001) um tanto secreto e distante dos interesses emocionais do espectador ocidental. A narrativa em si é bastante simples e, como é habitual no cinema iraniano, segue os passos minuciosamente documentais do velho neo-realismo italiano, envolvendo tudo num clima de vozes populares cujo acento é característico; o que complica não é a forma narrativa (despojada, fácil de acompanhar) mas os excessivos trejeitos regionais das personagens –suas iras, suas perplexidades diante da guerra, seu ritmo de viver e cantar são eventos estranhos na maneira como estes signos chegam aos olhos e aos ouvidos do observador brasileiro.
Em Canções Ghobadi não reedita a capacidade de alargar o interesse de suas crônicas de aldeia, encontrada em Tempo de embebedar cavalos (2000) e Tartarugas podem voar (2004); árido e dispersivo, este itinerário de morte de um grupo de músicos curdos, etnia apátrida do Irã, segue as lições de rigor e despojamento do realismo cinematográfico, mas está longe da emoção que Ghobadi atinge em seus outros dois filmes citados. Só lá pelo final, com a evocação da morte de um curdo que esperou um mês para ser enterrado (a chegada de um amigo) e a forte contemplação das deformações físicas trazidas às pessoas pelas armas químicas, é que Canções recupera uma parte do encantamento que perpassa a simplicidade das narrativas do cinema iraniano; mas não chega a salvar o sentido geral desta realização menor duma cinematografia de grande força.
Por
Eron Fagundes