7 de novembro de 2006
Os clichês do melodrama à americana são exacerbados em Um cara quase perfeito (Man about town; 2006), de Mike Binder, da mesma maneira que o trivial dos embates amorosos franceses percorre meio modorrentamente os liames narrativos de O amor em cinco tempos (2004), de François Ozon; o senso de um cinema mais comercial e assimilável está com Binder, que assume descadaramente os lugares-comuns, enquanto Ozn, como bom francês, os mascara com artifícios intelectuais que muitas vezes parecem pedantes. Binder é simples e simplório, como já demonstrara no curioso A outra face da raiva (2005), mas busca assuntos meio perturbadores, como a busca do eu, e organiza com alguma sensibilidade as situações o mais das vezes constrangedoras e primárias que o roteiro impõe a suas personagens.
Não deixa de ser algo incômodo ter alguma simpatia por Um cara quase perfeito, como ocorreu comigo, pois estou cônscio de que esta realização americana logo vai sumir de minha memória, só podendo ser evocada a partir destas anotações; é uma película que funciona ao longo da projeção, mas não se agarra a meu cérebro por muitos dias. É o caso também do outro filme de Binder que citei acima.
Bem Affleck é um canastrão simpático e Rebecca Romjin é uma gostosinha sentimental; Binder sabe unir estes elementos que teriam tudo para dar errado e constranger o observador, fazendo render alguma idéia mais apreciável a partir de um drama cheio de truques descartáveis.
Um cara quase perfeito favorece aquele tipo de analista de filmes que sabe dizer se o leitor de textos cinematográficos deve ir ou não ao cinema para vê-lo. Um escritor de textos-propaganda e um leitor de textos-propaganda podem encontrar-se em Um cara quase perfeito. Eu não sei ser este tipo de escritor. Divago e divago em torno do filme de Binder para topar pontos e mais pontos e permanecer divagando sem colocar o filme e o leitor no chão. Valerá a pena?
Por
Eron Fagundes