UM EASTWOOD NIPÔNICO
 

 

09 de março de 2007

Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima; 2006) é o contraponto japonês buscado pelo cineasta americano Clint Eatswood para A conquista da honra (2006): ambos os filmes retratam os violentos e desiguais combates entre japoneses e americanos na Costa do Pacífico no final da II Guerra Mundial; enquanto o segundo filme referido põe a câmara no universo de soldados ianques, o primeiro título aludido situa a narrativa no meio dos amarelos orientais. Cartas saiu de A conquista; enquanto pesquisava para este filme, Eastwood descobriu as cartas dum general japonês para sua família; são estas cartas que costuram a vagarosa e por vezes arrastada narrativa de Cartas.

A despeito de Eastwood, ao pasteurizar a lentidão nipônica de filmar (como se fosse um sub-Akira Kurosawa) deixar que Cartas se distenda excessivamente, sua visão japonesa do conflito é mais bem elaborada que sua visão americana. Ambos os filmes se estribam em conceitos fílmicos clássicos, adotam a sensibilidade característica de narrador de Eastwood; o que torna Cartas cinematograficamente mais enfático e apurado é um certo lirismo, talvez achado meio por acaso, como em As pontes de Madison (1995), mas que funciona com uma presteza que falta aos clichês desenvolvidos (com competência, é verdade) em A conquista.

Não é nenhum grande filme, que, até agora, Eastwood me parece incapaz de fazer; seu humanismo está bastante aquém do italiano Roberto Rossellini em seus  filmes que tratavam da miséria humana na guerra, e sua virulência está longe da clarividência formal do americano Stanley Kubrick. Mesmo assim, recomenda-se Cartas de Iwo Jima como uma curiosidade do esforço de uma alma tipicamente americana (Eastwood) para se pôr na pele de um ser muito diferente, um japonês.

Por Eron Fagundes

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