11 de outubro de 2006
Todo cinemaníaco sonha com Hollywood. Um diretor de cinema é, por via de regra, um cinemaníaco. Logo, todo diretor de cinema gostaria de desembarcar um dia na meca do cinema. Os milhões da indústria são sempre atraentes. É o que aconteceu com o cineasta argentino Alejandro Agresti depois do sucesso de Valentin (2002); A casa do lago (The lake house; 2006) é o resultado da associação de Agresti com os americanos.
Em Valentin Agresti mostrava-se sentimental e as marcações de sua linguagem eram bastante convencionais; mas um forte sopro de sinceridade elevava aquela realização platina para uma posição acima da média do que se vê habitualmente nas telas dos cinemas. No frigir dos ovos, o casamento Agresti-Hollywood não foi traumático: sentimentalismo e convenções narrativas agradam à indústria. O que ocorreu é que Agresti, em A casa do lago, tornou um pouco mais opaco e insincero seu estilo de filmar; ver o filme não é desagradável, a manipulação do melodrama por Agresti é às vezes engenhosa, Sandra Bullock e Keanu Reeves formam o par romântico capaz de embalar os corações mais frágeis; mas A casa do lago está longe de dar complexidade ao tema que aborda, uma relação amorosa fora do tempo onde uma mulher troca correspondência sentimental com um homem que estaria vivendo dois anos antes.
Agresti tenta fazer seu filme à sombra da inspiração das leituras novelescas da grande escritora inglesa Jane Austen; Persuasão, um dos romances da autora, tem função narrativa e temática essencial em A casa do lago. Jane Austen esteve em pauta este ano com a adaptação de Orgulho e preconceito (2005) por Joe Wright, um dos mais bonitos filmes do ano, condição a que A casa do lago infelizmente não pode aspirar. Argenti articula com leveza estas referências à ficção de Austen; há um certo equilíbrio, não há negar.
Como ocorreu com Verdade nua (2005), do canadense Atom Egoyan, A casa do lago é um bom exemplo de como o desejado dinheiro para executar uma arte cara como o cinema muitas vezes retira a liberdade do realizador e o faz descaracterizar seu jeito cinematográfico.
Por
Eron Fagundes