UM AMOR SEM PALAVRAS
 

 

06 de dezembro de 2005

Os maneirismos de um cinema formalista e intelectual fazem suas simulações em Casa vazia (Bin-jip; 2004), dirigido pelo sul-coreano Kim Ki-duk; a vagarosa encenação oriental e as imagens estudadas em gestos e enquadramentos demonstram a afeição do realizador pelo classicismo de filmar, sem todavia atingir e inquietação plástica e dramática dos mestres do cinema do Oriente, do japonês Akira Kurosawa ao chinês de Hong Kong Wong Kar-Wai.

O jovem marginal e a dona-de-casa insatisfeita em seu casamento burguês vão encontrar-se ao longo de uma hora e meia de projeção sem se dizerem uma palavra, surge uma atração em que o verbo falado está ausente e a linguagem de atitudes e olhares é exclusivamente explorada (no início a curiosidade do inesperado chama a atenção, mas logo o método se torna maneirista, confiando numa interioridade plástica que não chega, no que difere dos resultados obtidos por cineastas assemelhados, como o italiano Michelangelo Antonioni e o francês Robert Bresson). De Bresson falta a Ki-duk o rigor despojado, contentando-se o sul-coreano com fotogramas de beleza superficial que não cruzam o coração das coisas.

Casa vazia esforça-se por conter alguma originalidade temática, caprichando no inusitado. O protagonista costuma entrar nas casas de moradores ausentes, mas não rouba nem estraga nada: tão-somente quer um espaço para viver. Ao encontrar a mulher e associar-se silenciosamente a ela em suas invasões a residências, o rapaz vai dar seqüência a sua peculiar experiência de vida dentro duma perspectiva amorosa. Mas todo este arcabouço temático, pretensamente original, se esboroa como construção dramática: é um castelo de vento.

Por Eron Fagundes

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