05
de abril de 2005
O realizador
brasileiro Bruno Barreto tem a noção artesanal
do cinema, mas está longe de ser o artista das imagens
que seus amigos e admiradores gostariam de ver nele. Ao debruçar-se
sobre a visão de O casamento de Romeu e Julieta (2005),
o observador constata estes pólos que estabelecem os estreitos
limites do desempenho cinematográfico de Barreto; antes
de mais nada, o cineasta cerca-se de cuidados com a veracidade
da transposição do universo futebolístico
para a tela, utiliza torcidas organizadas reais para captar o
clima dos estádios e seus intérpretes parecem verdadeiros
torcedores (Luís Gustavo e a vovó Berta Zemel à frente);
assim, parece-me um feito raro do cinema brasileiro: fazer uma
crônica veraz do meio do futebol.
Mas
toda a armação técnica do filme se vai
desmanchando lentamente com as excessivas preocupações
com o público que lhe deu fama desde o distante Dona
Flor e seus dois maridos (1976); ao superficializar demais as emoções
de suas personagens, espalhando constrangedoramente clichês
oriundos do estilo televisivo de ver, Barreto perdeu a oportunidade
duma reflexão sobre como pode o futebol interessar ao
cinema.
De
que trata este novo trabalho de Barreto? Ao transpor para a rivalidade
futebolística paulistana aspectos da tragédia
de William Shakespeare, o diretor fala da paixão; por
futebol, por uma mulher. Faltou todavia a seiva que produziria
a paixão do cinema.
Os
protagonistas Marco Ricca e Luana Piovani não decepcionam.
Mas o roteiro extraído dum conto de Mário Prata
acumula trivialidades.
Em
suma, uma narrativa a que se pode assistir sem susto. Mas incapaz
de perdurar na memória.
Por Eron Fagundes
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