FALTA DE JEITO NO CINEMA GAÚCHO
 

 

04 de abril de 2006

O filme Cerro do jarau (2005), dirigido pelo gaúcho Beto Souza, é um retrocesso: retroage ao tempo em que o cinema brasileiro não sabia falar, como observava em antanho o crítico Paulo Emilio Sales Gomes; os diálogos ditos com uma dureza de teleteatro e a montagem truncada e estática mostram que Beto não tem o senso do cinema. Todavia, Beto co-dirigiu com Tabajara Ruas o bonito Netto perde sua alma (2001), transposição dum romance de Tabajara para o cinema; Tabajara participa do roteiro de Cerro do jarau, uma mistura exótica do popularesco jovem de hoje (urbanismo) com o arcaísmo de João Simões Lopes Neto (o ruralismo). Tabajara e Beto não se deram bem nesta empreitada: a direção de Beto nunca acerta o tom e sua confluência de gêneros (o policial, a comédia, o melodrama) está mais para o ridículo que para o criativo pretendido pelo diretor.

Os atores igualmente não ajudam muito. Tarcísio Meira Filho, evocando demasiadamente a persona de intérprete de seu pai, está constantemente deslocado em seu tom  dramático. Lu Adams se esforça, mas seu estrelismo vazio é constrangedor. Miguel Ramos, como o castelhano meio gangster, é muito caricatural e seus ensaios cômicos, deficientes. Tão-somente Nestor Monastério compõe um tipo mais ou menos convincente como um gangster efeminado muito violento e ameaçador, lembrando a antológica interpretação de Milton Gonçalves como o protagonista de Rainha diaba (1971), de Antônio Carlos Fontoura.

Em suma, devo lamentar como gaúcho este desperdício de celulóide num filme que se candidata ao título de um dos fiascos do ano  cinematográfico.

Por Eron Fagundes

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