27
de setembro de 2005
Se
Terra dos mortos (2005), de George A. Romero, representa
uma vertente mais elaborada e reflexiva do filme
de horror, a produção norte-americana A
chave mestra (The skeleton key; 2005), dirigida
pelo inglês Iain Softley, adota o padrão
do entretenimento vazio, onde o propósito
de assustar simplesmente o espectador elimina qualquer
outra intenção menos superficial. Se
o brasileiro Walter Salles logrou driblar com razoável
competência as armadilhas da indústria
em Água negra (2005), Softley entrega-se inteiramente
a uma futilidade de filmar plena daqueles artificialismos
visuais (certas sutilezas de corte e montagem aliadas
a travellings bruscos e cores impressionistas) que
caracterizam o jeito britânico no cinema.
Surpreende
um pouco que Softley desça tanto
em suas concessões às facilidades da
platéia. O diretor é o mesmo que há alguns
anos rodou o encantador Asas do amor (1997), filme
extraído da ficção de Henry
James. Em A chave mestra não sobra nada de
sua acuidade para expor personagens; os círculos
que o cineasta faz em torno da questão das
feitiçarias americanas de origem afro-européia
são bastante ingênuos e incapazes de
interessar um observador cético para com estes
assuntos.
O
elenco até que é interessante. Kate
Hudson defende bravamente as metamorfoses meio ridículas
de sua criatura, uma aparentemente inocente alma
que está numa casa cercada de demônios.
Gena Rowlands é inegavelmente uma grane atriz.
John Hurt é sempre uma aparição
que impressiona, mesmo calado, simulando um moribundo.
O jovem Jen Apgar, apesar de sua vozinha aborrecida,
tem o tipo psíquico e físico ideal
para o papel de advogado do diabo. Mas o roteiro
e as armas da realização são
um desastre. Será que o terror cinematográfico
pela confusão espiritual só pode ser
esta bobagem que nos oferece Softley? Penso que não
e aponto para dois filmes dos anos 60: Julieta
dos espíritos (1965), do italiano Federico Fellini,
e Repulsa ao sexo (1965), do polonês Roman
Planski, duas experiências cinematográficas
ainda hoje, passados quarenta anos de sua época,
arrepiantes.
Por
Eron Fagundes