05
de janeiro de 2006
Cinema,
aspirinas e urubus (2005), rodado pelo pernambucano
Marcelo Gomes, propõe inicialmente uma narrativa
cinematográfica marginal, sem concessões
comerciais, uma experimentação visual
onde a utilização dos áridos e
secos cenários nordestinos fez com que alguns
críticos o aproximassem da linguagem crua e
esbranquiçada de Vidas secas (1963), de Nelson
Pereira dos Santos; mas seu ritmo andarilho e por via
de regra dispersivo evoca mais o cinema que o alemão
Wim Wenders fez na década de 70 (especialmente
Com o passar do tempo, 1976).
Há um alemão em cena na realização
de Marcelo: ele é um dos muitos foragidos da
guerra nazista que anos 40 aportou no Brasil em busca
da vida e fugindo da morte; no sertão nordestino,
que ele cruza com seu caminhão, ele vende as
aspirinas do título. Em seu caminho, surge um
típico nordestino, em linguajar e miséria,
ambos começam a trabalhar juntos, ficam amigos
e é da matéria desta amizade que o
cineasta pretende extrair a verdade de seu filme.
Mas
Cinema, aspirinas e urubus, a despeito de receber os
favores de muitos analistas a partir de sua premiação
em Cannes, não chega a realizar-se plenamente.
Sua opção por uma certa dispersão
de planos, como nos filmes iniciais de Wenders, torna
o conjunto frouxo e sem vigor de linguagem. As boas
intenções de Gomes são evidentes
e sua inquietação louvável; espera-se
que proximamente ele possa ajustar os detalhes para
produzir um bom filme.
Por
Eron Fagundes