A SIMPÁTICA BOBAGEM AMERICANA
 

 

23 de agosto de 2006

Convém iniciar dizendo que Click (2006) é um filme bobo que parte duma idéia extravagante: como seria a vida se alguém tivesse um controle remoto para abafar os sons que o incomodam, ir e vir no tempo como quem troca de canal, modificar certas situações, atropelar questões intermediárias que impacientam e ir direto ao que está no fim da linha? Woody Allen executou algumas extravagâncias em alguns de seus filmes para produzir comédias cerebrais e divertidas e dar um toque diverso e visual a seu universo intelectual e escancaradamente literário; o homem-camaleão em Zelig (1983), a personagem que sai da tela para a vida real em A rosa púrpura do Cairo (1985); o homem desfocado em Desconstruindo Harry (1997). Mas o diretor Frank Coraci está longe da sabedoria de Allen para a narrativa cômica: prefere alinhavar situações facilmente cômicas, que se tornam engraçadas muitas vezes por um ridículo aqui involuntário, ali exacerbado.

O moralismo familiar torpe de Click também não se coaduna com as refinadas comédias clássicas de Frank Capra, a que o quiseram comparar. Coraci roda uma película passageira, um divertimento tão inconseqüente quanto fútil; certos temas sérios de que trata, como a questão de rever conceitos de vida nas relações familiares do protagonista (como a reforma de suas ações para com o pai), aparecem na tela superficiais e disformes, excessivamente pasteurizados, coisa muito para Hollywood filmar.

Adam Sandler, comediante do agrado de uma fatia de jovens espectadores, é canastrão, sua interpretação está longe de qualquer nuança, e é triste observar como ele vive atrofiadamente inquietações existenciais da personagem. Christopher Walken, como a fantasmagórica criatura que fornece o mágico controle remoto ao protagonista, é bastante melhor e mais incisivo em sua caracterização.
Click é uma destas comédias bobas que Hollywood vem fazendo há vinte ou trinta anos e que correm o risco de sempre se tornarem uma referência para um determinado público, uma vez que o gosto desta platéia é insistente em dar permanência a estas sessões da tarde do cinema.

Por Eron Fagundes

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