12
de junho de 2006
O código Da Vinci (The Da Vinci code; 2006), o filme que o diretor norte-americano Ron Howard extraiu do estouro de bilheteria escrito pelo romancista também americano Dan Brown, utiliza a personagem de um estudioso ou historiador para se esforçar por costurar uma narrativa que apresenta alguns tentáculos disparatados. O processo de valer-se duma personagem estudiosa para dar credibilidade intelectual ao que está sendo mostrado na tela já rendeu frutos extraordinários ao cinema, de A patriota (1979), do alemão Alexander Kluge, a Um filme falado (2003), do português Manoel de Oliveira, curiosamente duas obras-primas que, de maneira bastante diferente uma da outra, utilizam a figura da professo de história para sublinhar suas poderosas e reflexivas imagens; mas Howard está anos-luz abaixo de Kluge e de Oliveira: apesar de valer-se das digressões teológicas do livro (que é igualmente um poço de lugares-comuns escritos numa linguagem tíbia, frouxa e sem invenção), o filme de Howard é americanamente superficial e bobo, o que não seria nenhuma novidade, está dentro do esperado; o que surpreende é que esta superprodução deixa rastros de sua pressa de fazer o sucesso render, a narrativa descosturada é mal feita, o mal filmado é o conceito básico de O código Da Vinci: não se exigiria de Howard nenhum rigor, mas numa película tão pretensiosa ele nem sequer logra impor aquele pouco de emoção que havia em seu trabalho anterior, A luta pela esperança (2005), onde ele tratava de um tema mais de acordo com as possibilidades de seu parco cinema, o boxe.
Demais, a dupla de protagonistas não ajuda muito. Tom Hanks me parece ter sempre aquela babaquice interpretativa de sempre. E a francesinha Audrey Tautou é meiga, bonita e simpática: falta-lhe, porém, a seiva de intérprete.
Como observação final, resta-me refletir como é curiosa esta capacidade do cinema de tornar simplórias e rasteiras certas entidades históricas, como esta narrativa medieval de grande força do Santo Graal.
Por
Eron Fagundes