O ESPETÁCULO DA CRUELDADE
 

 

Em Códigos de guerra (Windtalkers; 2002) o chinês hollywoodiano John Woo busca um cinema um pouco mais sério do que o habitual em sua filmografia, mas a ideologia colonialista é a mesma de sempre da Meca da sétima arte. Woo é um destes artesãos que, a despeito de inserido na mesmice da indústria, tem seu próprio estilo de filmar e se distingue daqueles nomes impessoais que assinam realizações não-autorais. Woo é, digamos assim, um "autor" industrial, embora substantivo e adjetivo se contradigam à primeira vista; mas isto não retira a inutilidade, a ambigüidade e a superficialidade de seu gesto. Woo é ruim mesmo e ideologicamente tendencioso.

Em seu novo filme ele embarca numa certa onda de filmes de guerra. Tomando por base o episódio da utilização pelos americanos da língua não-escrita de índios navajos como código para comunicações secretas durante a II Guerra Mundial, Woo em momento algum questiona a natureza bélica. Seu filme é extremamente violento em algumas seqüências que aparecem intersticialmente desde a primeira, aquela rapinagem visual de explosões e corpos humanos pelo cenário impiedoso de Saipan; Woo vai desafogando um pouco desta violência em cenas mais calmas porém extremamente melancólicas e às vezes perversas.

Falta a John Woo para ser um autêntico autor algo do profundo sentido da violência que havia em Sam Peckinpah, que compunha balés de enfrentamento físico que parece às vezes ser o alvo de Woo. Sua plasticidade é muito mais rasteira que a de Peckinpah, considerado como um poeta da violência pelos críticos. O espetáculo da crueldade de Woo se enreda em si mesmo e nunca sai do lugar: falta-lhe o grande salto.

Por Eron Fagundes

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