15
de agosto de 2005
A
precária – e reacionária idéia – passada
pelo documentário brasileiro Coisa
mais linda (2005), de Paulo Thiago, é a de que o Brasil
das décadas de 50 e 60 era o paraíso:
certo, havia uma geração de artistas
maravilhosos, mas não se pode desvincular
assim as épocas e esquecer que o tempo atual é sempre
produto do tempo passado; os abismos do Brasil de
hoje não nasceram hoje, do nada, mas foram
construídos por tudo o que fizemos antigamente,
inclusive o escapismo fácil a que nossos artistas
e intelectuais se entregaram.
Inegavelmente
a realização de Thiago é um
apaixonante disco em celulóide. Quem não
se derrete de ouvir Tom Jobim, Carlos Lyra, Roberto
Menescal, João Donato, Alaíde Costa,
Nara Leão e tantos outros sons únicos
de nossa cultura musical? Mas o filme Coisa
mais linda mostra novamente a miopia cinematográfica
de Thiago: falta-lhe a invenção, a
pessoalidade, a hábil construção
dramática que gera a emoção.
Thiago confiou em seus ídolos e na capacidade
que eles têm de interessar o público:
só metade deste desejo pode satisfazer a platéia,
isto se ela tiver afinidades com a música
e a bossa nova; é um filme auditivo, mas infelizmente
não dá o giro que transforme seus grandes
sons em grandes imagens.
Um
dado curioso na montagem do filme de Thiago é a
presença das novas gerações:
Paulo Jobim, filho do falecido Tom, aparece cantando
canções de seu pai e falando sobre
a velho; Kay Lira, muito bonita e com aguda presença
de palco, canta ao lado de Carlos, que está ao
violão. Talvez um dos prejuízos de
Coisa mais linda seja também sua metragem:
para o que tem a dizer seus 131 minutos são
excessivos, embora para o que há por ouvir
o tempo seja escasso. Vamos às gravações
em disco ou CD.
Por
Eron Fagundes