05
de abril de
2004
O admirador
do cineasta inglês Stephen Frears não terá,
em Coisas belas e sujas (Dirty pretty things; 2002), motivo de
apaixonar-se pela verdade de um filme, como ocorreu em O
amor não tem sexo (1987). Mas ali estão os elementos
característicos do cinema de Frears, sua impiedosa visão
de mundo, sua capacidade de iluminar os sentimentos de suas personagens
com uma aguda observação da miséria humana.
Como
ocorria em Minha adorável lavanderia (1986), o primeiro
sucesso de público do realizador, em seu novo filme a
objetiva centra sua marcha em esmiuçar as ações
boas e torpes dos mais variados imigrantes que cruzam um subúrbio
de Londres. O protagonista é um recepcionista de hotel
vindo da Nigéria, fugido de um crime; seu encontro com
uma moça turca que ali trabalha e o contraponto oferecido
pela vilania do administrador do hotel que na verdade trafica
com órgãos humanos servem ao diretor para expor
com crueza os conflitos humanos.
Talvez
a realização se ressinta um pouco do distanciamento
inglês de Frears, que em Ligações perigosas (1988) aparecia numa forma irônica e cerebral bastante
mais depurada. Se o ator negro Chiwetel Ejiofor está bem
e Sergi Lopez compõe o tipo cínico adequado, a
estrela francesa Audrey Tatou, embora um pouco melhor do que
nos outros filmes dela vistos por aqui, está longe de
produzir interpretativamente tudo o que sua personagem requer.
Pesadas
todas as reflexões, Coisas belas e sujas não
deve destacar-se muito no cinema do ano, mas é algo acima
da média e que merece ser visto, dada a extraordinária
seriedade do cinema de Stephen Frears.
Por Eron Fagundes
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