19 de setembro de 2007
Conceição —autor bom é autor morto (2007) é uma produção coletiva da Universidade Federal Fluminense. Cinco diretores assinam a realização: André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento e Samantha Ribeiro. A proposta é inquietar o espectador com uma torrente audiovisual onde, para discutir o próprio fazer cinematográfico (o processo do cinema), se acumulam imagens que facilmente se desligam umas das outras, criando uma atmosfera tortuosa, muitas vezes indigesta; valendo-se da utilização de vários diretores (e de tudo o que esta utilização representa), este aspecto descontínuo do filme é sublinhado fortemente: cada autor tem seu estilo e a produção coletiva vai dar em estilo nenhum ou na soma de estilos que ao fim permanece algo meio incógnito, mistério indecifrável.
Todavia, esta idéia de descontinuidade determinada pelo espírito da fita é contrabalançada por duas linhas do roteiro que unem os fios disparatados. Uma destas linhas é a inserção, a espaços narrativos intersticiais, do grupo de roteiristas-diretores que, sentados a uma mesa e bebendo e conversando, vão propondo soluções temáticas e formais para o multiforme filme que se está vendo na tela. A outra linha que parece juntar os pedaços é a perseguição que Caçado faz a Fugitivo; no fim do filme as duas personagens aparecem no cenário dos autores para os contestarem e finalmente os matarem. Mesmo estas duas tentativas de sentido e unidade, não impede que Conceição seja um filme de estômago; lá pelo fim, uma exagerada seqüência de mortes e sangue se expande excessivamente nos precários setenta e oito minutos de projeção.
Conceição lembra um pouco aquelas produções universitárias em vídeo ou Super-8, comuns nos anos 70 e 80, em que grupos de iniciantes faziam experiências com a linguagem cinematográfica. Numa era mais industrializada do cinema brasileiro, Conceição agrega outros conceitos técnicos ao cinema amador, e sua constante mobilidade da câmara e sua montagem tão inquieta quanto estes movimentos da máquina de filmar têm um tipo de segurança que a proposta inicialmente livre gostaria de pôr abaixo.
Conceição vai liquidar com o autor e com a estrutura cinematográfica, mas quase nada é erigido no lugar destas entidades. Talvez seja esta mesmo a intenção dos realizadores: nas fronteiras do documentário e do filme experimental (numa expressão: documentar a linguagem), relatar o vazio e a impotência do cinema.
Por
Eron Fagundes