4 de julho de 2007
O romancista norte-americano Truman Capote foi um dos grandes criadores literários do século XX, mas também foi um dândi artificioso e uma estrela da auto-promoção. O que interessa ao público talvez seja esta parte característica de um indivíduo inteligentíssimo que se divertia frivolamente numa sociedade frívola; suas inquietações sobre a verdade e a dor na arte são vistas com um olha superficial. É o que se vê no mais recente retrato cinematográfico de Capote, Confidencial (Infamous; 2006), dirigido por Douglas McGrath; é bem verdade que a realização de McGrath busca certas complexidades das personagens e das relações entre elas que estavam ausentes das concessões mais hollywoodianas de Capote (2005), de Bennet Miller; mas os aspectos arrastados e pouco inventivos da narrativa de Confidencial dilui as possíveis intenções críticas que aproximariam o filme da visão muito pessoal que Capote tinha do meio social americano, visão elaborada filmicamente pelo realizador norte-americano Richard Brooks na versão que fez do livro A sangue-frio (1967).
McGrath cerca-se de estrelas, como Sandra Bullock, Sigourney Weaver, Gwyneth Paltrow, Isabella Rossellini, Jeff Daniels, Daniel Craig. Mas o preciosismo com que o ator Toby Jones reconstitui a persona física e mundana de Capote eleva sua interpretação a uma categoria de rara magnitude; quando se pensava que Philip Seymour Hoffman havia construído o Capote definitivo no filme de Miller, damos com Jones e suas perversidades gestuais para desnudar o grande escritor americano, onde sua travessa homossexualidade tem contornos espirituais e chega a seu perigoso abismo (literário e humano) em sua relação com um dos dois criminosos de Kansas, o ambíguo e problemático Perry. Pois bem: Confidencial usa mais fortemente o material fático de que dispõe, mas faltou-lhe o salto para fugir da tendência hollywoodiano para expor tudo como espetáculo — o próprio criador naufragaria neste prazer do espetáculo made in U.S.A.
Por
Eron Fagundes