UM CONTO CINEMATOGRÁFICO POPULARESCO
 

 

25 de outubro de 2005

Maurício Farias, habituado a dirigir seqüências cômicas para a televisão (A grande família), erra de longe o tom e perde o rumo narrativo em O coronel e o lobisomem (2005), extraído dum romance de José Cândido de Carvalho publicado em 1964. Os episódios se fragmentam despedaçando-se no filme de Farias; há um acúmulo de tentativa de ser engraçado que força os limites do grotesco e descarrila inevitavelmente. Farias, diretor obtuso e impessoal, deixa-se conduzir pela personalidade dos roteiristas Guel Arraes, Jorge Furtado e João Falcão, lembrando incomodamente os maneirismos interioranos de O auto da compadecida (2000) e Lisbela e o prisioneiro (2003), dois filmes dirigidos por Arraes que já não eram lá esses mundos.

O resultado de O coronel e o lobisomem é muito precário. O conjunto de astros tenta impor um certo carisma que nunca acontece: os trejeitos interpretativos são uniformes e invariáveis, mas constrangedores; ver gente como Diogo Vilela, Selton Mello, Ana Paula Arósio e Andréa Beltrão expostos a estas facilidades de composição da personagem é incômodo, mas deve ser registrado.

Todavia alguma coisa sobra. É a impossibilidade da direção de Farias de destruir a beleza poética do texto de interior de Carvalho. Ouvindo as frases, sua marcação sintática, chegamos aqui e ali a esquecer os problemas do filme, que converte o ritmo popular duma narrativa literária no popularesco mais desgracioso.

Por Eron Fagundes

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