16
de maio de 2005
Desde
seu primeiro filme, Os duelistas (1977), que tratava das guerras
napoleônicas, o cineasta inglês Ridley Scott tem
demonstrado uma sensibilidade bastante original para as cores
e as luzes, que, ao moverem-se numa tela, são a base da
linguagem cinematográfica mais evidente. Desde as primeiras
imagens, Cruzada (Kingdom of heaven; 2005), o novo filme de Scott,
se revela pela imposição da cor e da luz, ou duma
cor que se acentua pela iluminação que lhe é dada
em cada cena; as interpretações dos atores na verdade
submergem no mar grandiloqüentemente visual em que Scott
transforma sua fita.
Colocado
um pouco sob o signo dum épico aventuresco, dentro
das exigências comerciais de Hollywood, à maneira
de Tróia (2004), rodado pelo alemão Wolfgang Petersen,
Cruzada é uma realização mais digna do que
sua aparência poderia indicar. A precisão histórica
do roteiro tem sido apontada e sua irreverência para com
os cristãos medievais igualmente, o tom belicoso da narrativa
contrasta um pouco com a mensagem mais tolerante e humanista
da frase final no letreiro, mas a rendição de Scott às
necessidades do espetáculo guerreiro não deixa
de ser conseqüente e necessária.
Certas
aparições submersas na enxurrada de luzes
de Cruzada (como o ator Liam Neeson como o pai de herói
e Jeremy Irons em escassas cenas, e a beleza desfilante de Eva
Green em rápidos primeiros planos que interseccionam as
tomadas gerais de batalhas) devem ser salientadas como revelações
da mestria de Scott para se valer de todos os elementos cinematográficos.
As guerras religiosas medievais têm em Cruzada um instante
de beleza cinematográfica.
Se
alguns se deleitam com Blade Runner, o caçador de andróides (1981), um Scott de olho no futuro revisto há alguns anos,
eu elejo Cruzada, um Scott de olho no passado como holofote para
o presente abrindo-se para uma estética moderna, como
o ponto mais belo da cruzada de imagens deste cineasta britânico.
Por Eron Fagundes
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