20
de março de 2006
AO realizador Claude Chabrol pertence a uma geração privilegiada do cinema francês. Com filmes como Os primos (1959) e A mulher infiel (1969) Chabrol gozou de tanto prestígio quanto Jean-Luc Godard, François Truffaut ou Eric Rohmer, cineastas que plasmaram em celulóide uma inteligência e um brilho caracteristicamente gauleses. Mas Chabrol é o mais irregular dentre eles: às vezes assina filmes tão vazios e inócuos que poderiam ser dirigidos por homens menos talentosos. É o caso de A dama de honra (La demoiselle d'honneur; 2004), onde o cineasta vaga sem rumo em sua narrativa; as coisas acomodam-se mal no novo filme de Chabrol, e o espectador paga o pato: a monotonia arrasta-se em A dama de honra, levando o pretendido refinamento estético de Chabrol a um ponto obscuro, revelando parcelas anacrônicas de seu cinema literariamente elaborado.
Sempre se disse que Chabrol filma como se a perícia técnica do cineasta inglês Alfred Hitchcock se colocasse a serviço da dissecação da sociedade burguesa feita pelo romancista francês Honoré de Balzac. Estas influências se diluem muito em A dama de honra, que mais parece um sub-Dostoievski filmado por um imperito manejador de câmara do Terceiro Mundo; é certo que aqui e ali Chabrol exibe o virtuosismo de seu cinema, especialmente em alguns movimentos de câmara e em alguns enquadramentos, mas isto é pouco para sustentar uma narrativa cinematográfica.
Aludi a Dostoievski, e isto me leva a identificar no filme de Chabrol pontos de contato com Ponto final (2005), o último Woody Allen. Ambos tratam da culpa e do crime, mas Chabrol é mais soturno e todavia mais inconseqüente. A fantasia da personagem de Laura Smet é meio divagante; pode-se dizer de Ponto final que se equilibra a duras penas neste vagar fútil.
Em A dama de honra Chabrol perdeu até seu habitual rigor de encenação, rodando um filme desleixado: formal e psicologicamente.
Por
Eron Fagundes