UMA AVENTURA NA CHINA
 

 

13 de julho de 2007

Edward Norton, o astro de O ilusionista (2006), de Neil Burger, tem mais inteireza interpretativa que Naomi Watts, sua parceira de cena em O despertar de uma paixão (The painted veil; 2006), filme dirigido por John Curran a partir duma história dum romance do escritor inglês William Somerset Maugham. Este descompasso entre Edward e Naomi, se não atrapalha inteiramente o andamento narrativo, causa um certo desequilíbrio interpretativo no resultado final da realização; Naomi não chega a decepcionar, tem um desenvolvimento doce de sua personagem e leva fotograma por fotograma uma dignidade de gestos que pode aliciar o espectador; mas Norton se impõe mais com seus recursos cênicos, e Naomi se torna às vezes uma edulcorada co-adjuvante. Mais curiosa é a participação de Toby Jones no elenco de apoio do filme; Jones é uma persona interpretativa admirável, como se pôde comprovar por seu extraordinário desempenho na pele do romancista norte-americano Truman Capote em Confidencial (2006), de Douglas McGrath.

Voltando ao filme de Curran, pode-se dizer que ele faz uma narrativa cheia de suavidade, como a interpretação de Naomi; não deslancha em vigor, como as aparições de Edward. Curran é um daqueles artesãos de Hollywood que jogam na tela um estilo caprichado, de uma beleza artificial e geralmente morna, cheia de certas facilidades “poéticas” da imagem do cinema comercial. Não há em O despertar de uma paixão lugar para o ruim, mas falta igualmente lugar para o grande salto. Formalmente correto, mas sem inspiração.

Curran certamente simplifica as questões morais, psicológicas e estéticas que Maugham põe em sua ficção. O dilema da mulher flagrada em adultério por seu marido e que vai parar com ele numa infectada China para purgar sua culpa adquire, nas mãos de Curran, as facilidades de um melodrama entre o agradável e o sensitivo. Falta-lhe a densidade das aventuras  humanas nos relacionamentos de casais que cineastas geniais como o sueco Ingmar Bergman e o italiano Roberto Rossellini trouxeram de maneira extremamente nova para o cinema. Estaria este comentarista exigindo demais de Curran? Mas é que ele, ao verter para a tela a aventura chinesa de um autor tão prestigiado quanto Maugham, está cobrando de si mesmo uma empreitada além de suas forças.

Por Eron Fagundes

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