23
de maio de 2007
Diretor
das obras-primas Felizes juntos (1997)
e Amor à flor
da pele (2000) e de filmes “menores” igualmente
impressionantes como Cinzas no tempo (1994) e 2046 (2004), o chinês de Hong Kong Wong Kar-Wai
está inteiro com suas encucações
estilísticas e temáticas em Dias
selvagens (Fei jing juen; 1991), sua segunda realização,
mas seu cinema de experimentação com
o tempo e o espaço narrativos se desmembra
demais, tornando tudo muito frouxo e esterilmente
divagante. Kar-Wai parece tatear em busca da melhor
maneira de filmar, como espírito inquieto
que é, porém ainda está no degrau
de um experimentador meio desorientado; há aqueles
encadeamentos de cenários que depois ele depuraria
bastante em suas obras posteriores, edificando uma
montagem tão preciosa quanto aguda, há um
travelling delirante que sobe uma escada alucinado,
mas é muito pouco para que o admirador de
Kar-Wai sinta o mesmo prazer, por exemplo, dos movimentos
de montagem que surgem nos interstícios dos
planos colados em Amor à flor da pele.
Como
sempre, Kar-Wai se debruça sobre histórias
sentimentais a que ele acrescenta seu dom psicológico.
Um garoto e as mulheres de sua vida: a mãe
que o adotou, uma prostituta, e duas pretendentes.
Os diálogos se arrastam pelas imagens formalistas
de Kar-Wai, cujo cinema é na verdade uma fusão
de certas coisas que vemos no italiano Michelangelo
Antonioni com outros arroubos que nascem do francês
Alain Resnais.
Por
Eron Fagundes