7
de julho de 2003
Passam
as décadas e o cinema colocado na tela por Renato Aragão,
que antigamente gerenciava um grupo de quatro cômicos populares
da televisão (a uns a morte levou), segue interessando
seu público, apesar da precariedade e da superficialidade
de suas formas e temas. A ensaísta gaúcha Fatimarlei
Lunardeli, no fundamental Ô psit! O cinema popular
dos Trapalhões (1996), fez uma exacerbada defesa
do pobre cinema de Aragão; com brilho incomum, Fatimarlei
colocou à disposição de sua análise
refinadíssimos conceitos teóricos para reflexionar
sobre filmes sem nenhum refinamento. Diz a pensadora: “Expressão
legítima e autêntica de uma face da cultura brasileira,
os filmes d’Os Trapalhões são continuamente
menosprezados e destituídos de valor pela intelectualidade.
Neles é criticada a dependência cultural em relação
ao produto estrangeiro, sem que a crítica cinematográfica
perceba a sua própria dependência a um modelo dominante
de filmes estrangeiros.”
Agora
Renato Aragão está novamente em cartaz com
Didi, o cupido trapalhão (2003), dirigido por
seu filho Paulo Aragão e por Alexandre Boury. As características
repetitivas e fáceis do cinema de Aragão estão
ali para buscar cativar a platéia de sempre. Inspirado
numa peça clássica de William Shakespeare, com argumento
do próprio Renato, Didi, o cupido trapalhão
é todavia um exemplar anacrônico de comédia
oriunda das velhas chanchadas brasileiras. Mas, como produto tipicamente
nacional, talvez ainda funcione nas bilheterias do país.
Filme
para adolescentes e crianças pouco exigentes, Didi,
o cupido trapalhão é, como observa Fatimarlei
sobre toda a produção dOs Trapalhões, feito
para a massa e obedece aos processos usuais e sem novidades porque
não caberia exigir do público uma elaboração
maior do pensamento.
Por Eron Fagundes
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