11
de agosto de 2003
O diretor
norte-americano Paul Thomas Anderson produz um estilo cinematográfico
tão cheio de desvios e rupturas rítmicas que se
torna incômodo e profundamente estranho aos olhos do espectador
educado pelo padrão comercial de filmar segundo a via hollywoodiana.
Em Magnólia (1999) o cineasta fez uma
devassa mental coletiva de vidas americanas tão mesquinhas
quanto inquietantes.
Em seu
novo filme, Embriagado de amor (Punch-drunk love;
2002), Anderson não chega a tanto. A gagueira estilística
de que se vale é apropriada para retratar o protagonista
cujo retardamendo patético nunca é descrito linearmente
pela narrativa; cheio de sutilezas, reviravoltas e entrelinhas
em sua aproximação à alma da personagem,
o filme topa nesta mesma gagueira o estorvo para o aprofundamento
psicológico que seu tema requereria: os efeitos estilísticos
brilhantes de Anderson superficializam, aqui e ali, a questão.
No entanto,
é uma bela e provocativa película. O brilho começa
pelo ajustado e sensível par de protagonistas, um exuberante
Adam Sandler e uma enigmática e sinuosa Emily Watson. Imagens
elaboradas e musicalidade à flor do celulóide na
faixa sonora embalam bem o ritmo fílmico.
O sentimentalismo
proposto aqui edulcora a excepcionalidade do comportamento humano
radicalizada em Magnólia. Neste sentimentalismo
o sexo de infante da personagem e sua ingenuidade vital dilaceram
o olhar do espectador com golpes que podem ou não interessá-lo.
Por Eron Fagundes
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