04 de janeiro de 2007
Como as marcas Harry Potter e O senhor dos anéis, o filme Eragon (2006), dirigido por Stefen Fangmeier, é a ponta final de uma produção multimídia onde as constantes diversão e máquina de fazer dinheiro inibem qualquer outra intenção. Estes negócios nascem em fenômenos de livraria, se dispersam em jogos digitalizados e finalmente vão acabar no universo cinematográfico; o cinema parece ser já não a soma de todas as artes, mas o mar aonde vão dar todos os rios do entretenimento contemporâneo: estudar estes filmes e os produtos que os antecedem, ver como seus mecanismos se articulam e entrosam comunicando-se com o público infanto-juvenil de hoje, está muito mais para um tratado sociológico do que estético, embora seja a estética que vai determinar a visão sociológica destas realizações.
Eragon é uma figura visual (mesmo que tenha nascido em livro) característica da era digital. Como já acontecia em O senhor dos anéis, importa pouco dar unidade e consistência à fantasia exposta, ao contrário do que se vê no extraordinário O labirinto do fauno (2006), do mexicano Guillermo Del Toro; se Harry Potter busca uma certa coerência dentro da infantilidade de suas histórias, em Eragon o interesse está na busca dos efeitos visuais permitidos pela digitalização, não há negar que em alguns momentos (aquelas visões multicoloridas e alteradas do herói no lombo voador de seu dragão Saphira, um vertiginoso travelling-para-a-frente que parece entrar no íntimo do plano) os aspectos visuais atingem um delírio poético, mas é pouco e breve para se dizer que Eragon possa ser uma poesia em imagens.
O roteiro de Eragon não oculta as origens ingênuas de sua forma original: o livro foi escrito por um menino de quinze anos, Christopher Paolini, que, sem ser nenhum Rimbaud (o grande poeta francês), se esmerou em criar seu próprio e difuso mundo que vinha de seu interior. Assim, há duas maneiras de encarar o filme: pode-se considerar que ele cumpre sua função de entretenimento com mais “honestidade” do que Harry Potter e O senhor dos anéis; mas também se pode alegar que esta “honestidade” é falsa, pois está cheia de vazios ocultados pela indústria de efeitos cinematográficos.
Por
Eron Fagundes