PESADELO DO ESQUECIMENTO
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29 de novembro de 2004

Um dos mais brilhantes e criativos cineastas norte-americanos da atualidade, David Lynch, retrata em seus filmes os delírios da mente humana, revelando um poder de fantasia cinematográfica de que nenhum Joseph Ruben, em Os esquecidos (The forgotten; 2004), logra sequer aproximar-se. Por que evoco Lynch para começar a falar de Ruben? Poderia pensar no francês Alain Resnais, que trata da memória e das deslembranças. Mas Lynch namora o suspense cinematográfico, coisa a que Ruben se entrega inteiramente; e de maneira estereotipada e superficial.

A narrativa de Os esquecidos tem aquele clima que o espectador logo identifica como de pesadelo cinematográfico. A fotografia é opressiva e sombria; há, todavia, um contraponto visual para se compreender as intenções da película reveladas em seu final: nas seqüências em que a mulher que deveria esquecer seu filho mas não consegue joga suas lembranças para as imagens da criança, a fotografia tem um colorido berrante e apresenta uma respiração mais aberta para o assistente; ao cabo da fita este teor fotográfico retornará.

O ilusionismo cinematográfico exposto em Os esquecidos acaba obedecendo a explicações esquemáticas, que tornam seus exageros fantasiosos mais digeríveis para o espectador habitual. É, de fato, o poder de Hollywood de fazer-nos engolir todas as suas drogas. É um mérito que não podemos negar à meca do cinema.

Por Eron Fagundes