A época da mediocridade cinematográfica campeia neste verão de 2002. Os críticos deixam-se domar por ela. Quando um pensador da estatura do gaúcho Luiz Carlos Merten (em atividade em São Paulo) qualifica um produto primário como O senhor dos anéis (2001), de Peter Jackson, com sua extensão sonífera, como grande filme, alguma coisa vai mal no gosto cinematográfico contemporâneo.
O fabuloso destino de Amélie Poulain (Lê fabuleux destin d'Amélie Poulain; 2001), de Jean-Pierre Jeunet, é mais uma realização francesa que, neste início de temporada, logra furar o cerrado bloqueio da hegemonia americana nas telas da cidade. Isto é bom. Pena que não estamos diante do melhor cinema francês, ainda que o estilo de filmar, amarrando as palavras às imagens e buscando uma certa doçura narrativa, seja tipicamente francês e evoque especialmente o olhar do cineasta François Truffaut para as mulheres e as coisas do coração.
A fantasia fabulista proposta por Jeunet esvai-se num colorido artificial e numa historinha ingênua para principiantes. Óbvio sucesso de público da cinematografia francesa, o trabalho de Jeunet é um inventário um tanto quanto tolo da alma duma garota em busca de seu príncipe encantado.
Diante da pouca exigência de hoje para os filmes que se vêem, a nova incursão de Jeunet pelas facilidades sentimentais tem passado como uma curiosidade. Na verdade, uma curiosidade que deve ir logo para o lixo.
Por
Eron Fagundes