09
de agosto de
2004
O empenho
político do documentarista Michael Moore atingiu seu nível
mais alto de mordacidade em Tiros em Columbine (2002), em que
ele demonstrava, com a precisão de um teorema, que a violência
americana sempre foi institucionalizada pelo poder. Em seu novo
filme, Farnheit 11 de setembro (Farenheit 9/11; 2004), Moore
cede àquilo que está sempre rondando o tipo de
cinema que ele propõe, o proselitismo político;
localizando suas câmaras-metralhadora num ataque feroz
ao governo de George W. Bush, Moore usa o cinema para destronar
um governante, o filme se converte em puro instrumento político
e certamente é muito mais datado que Tiros em
Columbine.
Se Bush de fato cair nas eleições americanas de
novembro próximo, o cineasta Moore teria cumprido com êxito
com sua missão, mas que sobrará da fúria
de sua realização?
Sim,
o cinema pode ser uma arma política e muitas vezes
sua emoção vem deste mimetismo. O clássico
O encouraçado Potemkin (1925), do russo S.M. Eisenstein, é um
exemplo citável; mas Potemkin tem sobrevivido aos anos
por motivos estéticos e não políticos, embora
uns e outros se confundam nestes casos. Em Farenheit a estética
submerge; Moore faz um filme comercial, talvez na linha daquelas
denúncias do greco-francês Constantin Costa-Gavras. É uma
fita hoje recomendável, boa de ver, mas cuja eficácia
no futuro do cinema é inegavelmente um ponto de interrogação.
Por Eron Fagundes
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