27
de fevereiro de 2006
A
realizadora indiana Mira Nair supera-se ao rodar
uma versão cinematográfica do romance
Feira de vaidades (Vanity fair; livro de 1847, filme
de 2004), escrito pelo inglês, nascido na índia,
William Makespeace Thackeray. Adaptando para a tela
com rara felicidade a acidez de observações
de Thackeray sobre o preciosismo ridículo
da aristocracia britânica, Nair estabelece
uma visão indiana sobre a Inglaterra oitocentista;
a Índia aparece no filme como uma referência
geográfica, como um contraponto cultural natural
aos modos afetados dos nobres e ricos de Londres.
A
heroína Becky Sharp é vivida com
graça por Reese Witherspoon; as sinuosidades
da personagem permitem a Nair, através do
texto sutil e perverso de Thackeray, cruzar os palácios
suntuosos e decadentes duma certa classe alta européia
de então. Nair é precisa e objetiva
em desnudar a hipocrisia de comportamento dos ingleses
elevados, mesmo quando aparentemente, como uma velha
excêntrica dama influenciada por suas leituras,
defende o arrojo e a aventura dos jovens –na
literatura, não de fato no mundo real.
Os
tempos napoleônicos tem uma bela reconstituição
de época em Feira das vaidades, não
tão minucioso e brilhante e profundo como
em Os duelistas (1977), do inglês Ridley Scott,
mas certamente com dados que merecem consideração
do espectador empenhado. È verdade que alguns
excessos românticos finais prejudicam a própria
ascensão do filme; talvez aí Nair não
tenha sabido modernizar o texto de Thackeray. Mesmo
assim, um belo filme, acima da média da mediocridade
reinante.
Por
Eron Fagundes